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Eficiência do Bacillus subtilis no manejo de nematoides na cultura da cana-de-açúcar

Por: Lorena Resende Oliveira

03/09/2020



Nematoides e o desafio da produtividade na cultura da cana-de-açúcar.

A cana-de-açúcar é frequentemente cultivada como monocultura, isto resulta em problemas de pressão de patógenos e parasitas. Entre estes, os nematoides podem ocasionar vários danos no sistema radicular desta planta, reduzindo sua capacidade de obter água e nutrientes do solo e, consequentemente, reduzindo seu crescimento e produtividade na área cultivada (Machado et al., 2013). Geralmente, o principal sintoma observado na cultura é a formação de reboleiras mostrando que os nematoides não apresentam uma distribuição uniforme no solo e podem ser disseminados por diversas formas como, operações de preparo de solo, plantio, irrigação dentre outros.

Dentre as espécies de nematoides mais comumente associadas com a cana-de-açúcar estão aqueles responsáveis pelas lesões radiculares, Pratylenchus zeae e formação de galhas como Meloidogyne incognita e M. javanica (Barbosa et al, 2013; Dinardo-Miranda et al., 2003). Os nematoides do gênero Pratylenchus são migratórios e podem se alimentar intra ou intercelularmente do córtex da raiz. A morte de células corticais leva à formação de cavidades, ocorrendo assim, uma infecção secundária por fungos e bactérias não benéficas (Blair, 2005).

Já os nematoides de galha (Meloidogyne spp.) são considerados endoparasitas sedentários. Durante o ciclo de vida, esses parasitas passam por quatro estádios juvenis antes de se tornarem adultos. A primeira ecdise ou troca de cutícula ocorre no interior do ovo, em seguida, os juvenis vermiformes (2º estádio) se dispersam pelo solo e penetram nas raízes do hospedeiro, geralmente pela ponta da raiz (coifa) em crescimento. O tecido da raiz é estimulado por secreções produzidas pelas glândulas esofagianas do nematoide a produzir células gigantes, que atuam como uma fonte de nutriente para o nematoide adulto e seus ovos. Como resultado, as pontas das raízes primárias e finas desenvolvem galhas terminais. Os nematoides aumentam rapidamente de tamanho e passam pelas ecdises transformando em 3º e 4º estádio juvenil e finalmente em adultos (Berry et al., 2017).

Uma das estratégias de manejo utilizadas para o controle de nematoides na cana-de açúcar é o uso de genótipos resistentes (Dinardo-Miranda, 2005). Todavia, a integração com outras ferramentas como a aplicação de rizobactérias na lavoura canavieira, têm contribuído positivamente para a redução de problemas nematológicos e, consequentemente, resultando em ganhos de produtividade. Importante notar que, esse manejo depende da interação entre o genótipo da cana-de-açúcar e o isolado de rizobactéria utilizado.

O modo de ação de Bacillus subtilis como rizobactéria, no controle de nematoides, ainda não está totalmente descrito. Existem algumas indicações de mecanismos de controle de B. subtilis contra nematoides incluindo a produção de metabólitos passíveis de reduzir a reprodução e a atração do nematoide à planta, intermediada naturalmente por exsudados liberados pela raiz que são específicos do hospedeiro (Araujo et al., 2002); Resistência sistêmica induzida (Kloepper; Ryu; Zhang, 2004); produção de proteases que degradam a cutícula do nematoide e interferem no ciclo do parasita (Lian et al., 2007) bem como a produção de sideróforos que podem agir como nematicidas (Tahir et al., 2013).

Em estudos realizados por Cardozo e Araujo (2011), a aplicação de suspensão aquosa de B. subtilis promoveu o crescimento em cana cultivada em solo infestado com nematoides. Foi observado um acréscimo de 27,6% em altura de plantas e 42,7% em massa seca da parte aérea quando comparado com o tratamento controle aos 90 e 105 dias após o plantio, respectivamente. Além disso, houve uma redução de 40% na quantidade de juvenis e 62,5% de ovos de Meloidogyne spp. em experimentos realizados em casa de vegetação quando comparado com o tratamento controle em cana-de-açúcar.

Mazzuchelli e colaboradores (2020) aplicaram 1,33 L ha-1 de B. subtilis em comparação com o químico convencional (carbofurano), cuja a comercialização no Brasil é proibida desde o ano de 2017 pela Anvisa, em dois genótipos de cana-de-açúcar (RB867515 e SP81-3250). As aplicações foram realizadas via sulco e pós-emergência (30 dias), em áreas infestadas naturalmente com nematoides de galha (Meloidogyne spp.) e de lesão (Pratylenchus spp.), sendo constatado que, a aplicação no sulco se mostrou mais efetiva para o controle de nematoides do que a aplicação pós-emergência. O melhor controle do parasita Meloidogyne spp. foi obtido pela aplicação de B. subtilis no sulco, atingindo um nível de controle de 57% e 46% em SP81-3250 e RB867515, respectivamente. E o controle de Pratylenchus spp. também foi mais eficiente com o uso de B. subtilis no plantio, com uma redução de 49,3% desse nematoide no genótipo SP81-3250 e 38% no RB867515.

É visto, portanto, que a introdução de B. subtilis como ferramenta no controle de nematoides em cana-de-açúcar tem se mostrado muito promissora pois, impede a ocorrência de danos causados por fitoparasitas de tão difícil controle na rizosfera de plantas. É importante compreender que o uso de nematicidas convencionais tem sido questionado devido à perda de eficiência, aumento de custos e riscos de contaminação ambiental. Outras ferramentas, além do controle microbiano, como a rotação de culturas e cultivares mais tolerantes, também são recomendados para reduzir os danos causados pelos nematoides e assim contribuir para um manejo seguro e efetivo até mesmo em culturas tão complexas como a cana-de-açúcar.


Referências


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BARBOSA, B. F. F.; SANTOS, J. M.; BARBOSA, J. C.; SOARES, P. L. M.; RUAS, A. R.; CARVALHO; R. B. Aggressiveness of Pratylenchus brachyurus to sugarcane, compared with key nematode P. zeae. Nematropica, v. 43, n. 1, p. 119–130, 2013.


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BERRY, S. D.; CADET, P.; SPAULL, V. W. Nematode Pests of Sugarcane. In: H. FOURIE et al. Nematology in South Africa: A View from the 21st Century. Springer International Publishing Switzerland, 2017. Chapter 11, p. 261-284.


CARDOZO, R. B.; ARAUJO, F. F. Multiplicação de Bacillus subtilis em vinhaça e viabilidade no controle da meloidoginose, em cana-de-açúcar. Revista Brasileira Engenharia Agrícola e Ambiental. v. 15, n. 12, p. 1283–1288, 2011.


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DOI: 10.1094/PHYTO.2004.94.11.1259


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MACHADO, A. C. Z.; DORIGO, O. F.; MATTEI, D. First Report of the Root Knot Nematode, Meloidogyne inornata, on Common Bean in Paraná State, Brazil. Plant Disease, v. 97, n. 3, p. 431-431, 2013.


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TAHIR, M. I.; INAM-UL-HAQ, M.; AZAM, F.; REDDY, M. S. Utilization of Pseudomonas fluorescens and Bacillus subtilis for the root knot nematode management of chili and their effect on chili growth. In: Recent advances in biofertilizers and biofungicides (PGPR) for sustainable agriculture, Manila, Philippines, PGPR Society for Sustainable Agriculture, p. 366–377, 2013.


Como citar este artigo: Lorena Resende Oliveira. Eficiência do Bacillus subtilis no manejo de nematoides na cultura da cana-de-açúcar. SoluBio Tecnologias Agrícolas LTDA. (https://www.solubio.agr.br/post/efici%C3%AAncia-do-bacillus-subtilis-no-manejo-de-nematoides-na-cultura-da-cana-de-a%C3%A7%C3%BAcar). Publicado em 03 de setembro de 2020.



Lorena Resende Oliveira

Mestre em Produção Vegetal pela UFT e MBE em Engenharia de Produção e Serviços.

Escreve sobre os benefícios do uso de microrganismos para a agricultura.


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